Por Ron Rosedale, MD(*)
O colesterol não é o principal culpado da doença de coração ou de qualquer doença. Se ele for oxidado ele até pode irritar ou inflamar os tecidos aos quais está aderido, como o endotélio (membrana interna das artérias). Essa poderia ser uma das numerosas causas de inflamação crônica que pode prejudicar o forro desses vasos. Porém, muitas gorduras boas são facilmente oxidadas, como o ácido graxo ômega-3, mas isso não significa que você deveria evitá-lo a qualquer custo.
O bom senso indicaria que nós deveríamos evitar a oxidação (ranço) do colesterol e dos ácidos graxos e ao invés de se despojar de moléculas importantes para a vida. Usando o mesmo pensamento médico convencional que está sendo usado para colesterol, uma pessoa seria levada a acreditar que os doutores imaginam que para reduzir o risco da doença de Alzheimer se deveria retirar o cérebro das pessoas.
Na realidade, o colesterol está sendo transportado para os tecidos como parte de uma resposta inflamatória que visa consertar um dano em andamento.
A fixação em colesterol como uma causa principal de doença de coração desafia os últimos 15 anos de ciência e declina das reais causas como o dano (por glicação) que os açúcares como a glicose e a frutose inflige nos tecidos, inclusive o forro de artérias, causando inflamação crônica e a placa de ateroma resultante.
RESISTÊNCIA À INSULINA E À LEPTINA
Centenas de excelentes artigos científicos têm estabelecido a ligação da resistência à insulina, e mais recentemente da resistência à leptina, com a doença cardiovascular, de modo muito mais evidente do que o colesterol, e são na realidade, pelo menos parcialmente, responsáveis por anormalidades no colesterol. Por exemplo, a resistência à insulina e à leptina resulta em um aumento na quantidade de uma fração especial das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) as partículas “pequenas e densas” do LDL (LDL pequenas e densas).
Isto é muito mais importante do que a taxa de colesterol total. Uma vez que, com a transição do tamanho das partículas para as LDL pequenas e densas, o colesterol LDL total ainda poderia ser baixo apesar do número das partículas dessa fração - pequena e densa - ser maior. Partículas LDL pequenas e densas podem se inserir entre as células que formam o forro das artérias, onde elas podem sofrer colisões e serem oxidadas (rançar), dando início a um processo de inflamação nessa membrana e formando as placas que levam a uma obstrução posterior.
Muitos estudos científicos mostraram um mecanismo de causa e efeito entre a insulina e a leptina elevadas com a doença cardiovascular, enquanto que quase todos os estudos equivocados do colesterol só mostram uma associação entre as taxas elevadas e a enfermidade. Uma associação não insinua causa. Por exemplo, qualquer coisa pode estar causando anormalidades nos lipídios - colesterol e triglicérides elevados, e também estar causando doença de coração.
Essa "qualquer outra coisa" é o mau funcionamento metabólico da insulina e da leptina. De forma equivalente a glicose não causa diabete; a glicose está escutando ordens. Um comando defeituoso da insulina e da leptina é a causa de diabete. Igualmente, colesterol não causa doença de coração, mas sinais metabólicos indevidos, que incluem sinais indevidos para o colesterol (fazendo-o oxidar) e talvez para o fígado, que fabrica o colesterol, causarão a doença cardiovascular e a hipertensão.
Reduzir o colesterol não irá trazer nenhuma melhora nas causas subjacentes, as verdadeiras raízes da doença crônica sempre diz respeito a uma comunicação metabólica imprópria, e os generais dessa comunicação metabólica são a insulina e leptina. Elas são realmente o que deve ser tratado para reverter a doença do coração, diabete, osteoporose, obesidade, e até mesmo o processo de envelhecimento.
COLESTEROL: INJUSTAMENTE O ACUSADO?
Antes de nós podermos começar a falar sobre a real causa e o tratamento efetivo para as doenças cardiovasculares, nós temos que olhar primeiro para o que é conhecido, ou eu deveria dizer: o que nós pensamos que nós sabemos. A primeira coisa que se observa quando uma pessoa ouve falar em doença do coração é quase sempre o colesterol. O colesterol e a doença do coração foi quase sinonímia durante o último meio-século. O colesterol foi retratado como o Darth Vader para nossas artérias e o nosso coração.
A mais recente recomendação dada por um painel dos chamados "peritos" preconiza que o colesterol de uma pessoa seja tão baixo quanto possível, na realidade para um nível tão baixo, a ponto dessas taxas não poderem ser alcançadas através de dieta, exercício, ou qualquer modificação de estilo de vida que se conheça. Dessa forma, os peritos recomendam drogas redutoras de colesterol; particularmente as "estatinas", que precisam ser prescritas a qualquer um com risco alto de doença do coração, uma vez que a doença de coração é o assassino número um neste país, incluindo a maioria dos adultos e até mesmo muitas crianças. O fato de que isto poderia acrescentar mais números aos $26 bilhões, em vendas com drogas tipo estatinas no ano passado, não devem, seguramente, ter nenhum reflexo nessas recomendações... (ironia do autor, NT)
Ou será que tem?
CONFLITO DE INTERESSES DOS EXPERTS
A maioria de associações de consumidores pensa que tem! Eles descobriram que oito dos nove "peritos" que fizeram as recomendações estavam na folha de pagamento das companhias farmacêuticas que fabricam tais drogas. As principais organizações científicas puniram jornais médicos que permitiram que a indústria farmacêutica publique resultados enganosos e meias-verdades. Há um grande esforço em andamento para obrigar a indústria farmacêutica (e outros) a publicar resultados de todas as suas pesquisas, e não apenas aquelas que lhes são favoráveis. Estudos que demonstraram resultados negativos também devem ser publicados.
Reduzir o colesterol poderia não ser tão saudável quanto nos informavam. Cada vez mais tem sido publicados estudos que mostram que reduzir o colesterol possa ser até mesmo insalubre, particularmente pelo uso de drogas do tipo estatinas. Em particular, foi demonstrado que esse tipo de droga pode ser prejudicial a músculos, originado danos consideráveis. Um sintoma comum deste dano é o desconforto e a dor muscular que muitos pacientes experimentam com o uso de drogas redutoras do colesterol, porém a maioria não percebe que essa medicação é a responsável por isso.
Humm... o coração não é um músculo?
MEDICAMENTOS COMO AS ESTATINAS NA VERDADE AUMENTAM A DOENÇA DE CORAÇÃO
De fato, foi demonstrado que os baixos níveis de colesterol pioram os pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, quando o coração fica muito fraco para bombear sangue de forma efetiva. Foi demonstrado que as drogas estatinas também causam danos nos nervos e prejudicam grandemente a memória. Uma das razões pelas quais as drogas estatinas têm esses vários sérios efeitos colaterais é que elas funcionam inibindo uma enzima vital do fígado que fabrica o colesterol. Porém, a mesma enzima é usada para fabricar coenzima Q10 que é um bioquímico necessário para transferir energia dos alimentos para as nossas células – processo fundamental para a vida e a saúde celular.
É bem conhecido que as drogas estatinas inibem nossa fundamental produção de coenzima Q10. É muito relevante que, enquanto muitos cardiologistas insistem que é correlacionada uma redução no colesterol com uma redução no risco de ataques de coração; poucos podem afirmar que há uma redução no risco de mortalidade. Isso tem sido muito difícil de demonstrar. Em outras palavras, nunca foi conclusivamente demonstrado que reduzir as taxas de colesterol salve vidas. Na realidade, várias pesquisas demonstraram que reduzir o colesterol para os níveis que têm sido recomendados recentemente pode estar correlacionado com um risco de mortalidade aumentado, especialmente por câncer.
NÃO EXISTEM COISAS COMO COLESTEROL BOM OU MAU
Como a correlação de colesterol total com doença do coração é muito fraca, há muitos anos atrás uma correlação mais forte foi pesquisada. Foi visto que há um colesterol denominado “bom” chamado HDL, e que há um colesterol denominado “ruim” que é o LDL. HDL significa lipoproteína de alta densidade, e LDL significa lipoproteína de baixa-densidade. Por favor: observe que LDL e HDL são lipoproteínas -- gorduras combinadas com proteínas. Só existe um colesterol. Não há nenhuma coisa do tipo colesterol bom ou ruim. Colesterol é só colesterol. Ele se combina com outras gorduras e proteínas para ser levado pela circulação sangüínea, uma vez que a gordura e soro sangüíneo (hidrofílico) não se misturam muito bem.
Substâncias gordurosas devem ser transportadas para os nossos tecidos e células e para isso utilizam proteínas. LDL e HDL são formas de proteínas e estão longe de ser só colesterol. Na realidade nós sabemos agora há muitos tipos dessas partículas com proteína e gordura. As partículas tipo LDL existem em muitos tamanhos e as partículas LDL grandes não são um problema. Só as partículas denominadas de LDL, densas e pequenas, podem ser, potencialmente, um problema, porque elas podem se inserir no forro das artérias e, se elas se oxidam, elas podem causar dano e inflamação. Assim, você poderia dizer que há um "LDL bom" e um "LDL ruim." Também, algumas partículas de HDL são melhores que outros. As suas taxas de colesterol total lhe dizem muito pouco. Mesmo conhecendo seus níveis de LDL e de HDL pouca informação útil será fornecida.
Um erro que raramente é cometido nas ciências mais rigorosas, como a física, parece freqüentemente ser feito em medicina. Está sendo confundida uma correlação com uma causa. Pode haver uma correlação fraca de colesterol elevado com ataques de coração, porém isto não significa é o colesterol que causou o ataque de coração. Cabelo grisalho é correlacionado com o envelhecimento; porém ninguém poderia dizer que os cabelos cinzentos fizeram uma pessoa envelhecer. Da mesma forma, tingir os cabelos para reduzir os cabelos brancos realmente não torna ninguém mais jovem. Tampouco se tentares reduzir seu colesterol.
Talvez qualquer outra coisa esteja causando ambos: o cabelo se tornar grisalho e o processo do envelhecimento. Até mesmo se colesterol elevado fosse significante para a doença de coração (o que eu questiono) qualquer outra coisa que dê causa a um aumento de colesterol também pode estar causando a doença de coração.
Olhemos um pouco mais para o colesterol ou, como Paul Harvey dizia, "o resto da história". Primeiramente, o colesterol é um componente vital de toda membrana celular no planeta Terra. Em outras palavras, não há nenhuma vida (do reino animal) na Terra que possa viver sem colesterol. Isso lhe diz automaticamente que, ele em si mesmo, não pode ser mau. Na realidade é um de nossos melhores amigos. Nós não estaríamos aqui sem ele. Não imagine em reduzir o colesterol pois isso aumenta o risco de vida de um indivíduo. O colesterol também é um precursor de todos os hormônios esteróides. Você não pode produzir estrogênios, testosterona, cortisona, e um grande número de outros hormônios vitais sem o colesterol.
COLESTEROL É O HERÓI, NÃO O VILÃO.
Foi determinado há muitos anos atrás que a maioria do colesterol na sua circulação sangüínea vem da fabricação de seu fígado. A quantia de colesterol que você come tem pequeno papel na determinação de seus níveis de colesterol. Também é conhecido que o HDL transporta o colesterol dos seus tecidos, e de suas artérias, de volta para o seu fígado. È por isso que o HDL é chamado de colesterol “bom”, porque está levando colesterol supostamente para longe de suas artérias. Mas pensemos nisso.
Por que seu fígado tem certeza que você tem bastante colesterol?
Por que o HDL está levando de volta colesterol a seu fígado?
Por que ele não leva para os seus rins, ou para os seus intestinos para você se livrar dele?
Está levando de volta isto a seu fígado de forma que seu fígado pode reciclá-lo; colocando-o em outras partículas para ser levado aos tecidos e células que precisam dele . Seu corpo está tentando produzir e conservar o colesterol pela razão precisa de que ele é tão importante, realmente vital, para a saúde.
Uma função de colesterol é impedir suas membranas de células se quebrem. Como tal, você poderia considerar o colesterol como uma SUPERLIGA de suas células. É um ingrediente necessário para qualquer tipo de conserto celular. A doença coronária associada com ataques cardíacos é reconhecida como originária de algum dano do forro, da camada interna, dessas artérias. Esse dano dá início a um processo inflamatório. Atualmente se entende que a doença coronária, que causa os ataques de coração, tem como origem principal uma inflamação crônica.
O QUE É INFLAMAÇÃO?
Pense do que acontece se você fosse cortar sua mão. Dentro de uma fração de um segundo, substâncias químicas são libertadas pelo tecido machucado para iniciar o processo conhecido como inflamação. A inflamação permitirá que o corte se cure, e realmente o impedir de morrer. Os vasos sanguíneos cortados se constringem para impedir muito sangramento. O sangue fica mais "grosso" de forma que ele pode se coagular. São alertadas as células brancas e as substâncias químicas do sistema imune para vir à área para impedir que intrusos, como vírus e bactérias, invadam o corte. São chamadas outras células para se multiplicar e consertar o dano de forma que você possa se curar. Quando o conserto é finalizado, você sobreviveu a esse descuido mais um dia. Entretanto você pode ficar com uma pequena cicatriz que mostrará suas batalhas de sobrevivência.
Nós sabemos agora que eventos semelhantes acontecem dentro do forro de nossas artérias. Quando um dano ocorre no forro de nossas artérias (ou qualquer outro lugar) são liberadas substâncias químicas para iniciar o processo de inflamação. Artérias constringem, o sangue fica mais propenso a se coagular, células brancas do sangue são chamadas à área para absorver os resíduos, e células adjacentes são levadas à multiplicação reparadora. No final das contas, se formam cicatrizes, porém para o interior de nossas artérias, e essas cicatrizes nós chamamos de placas (placas ateromatosas). E a constrição de nossas artérias e o "engrossamento" posterior de nosso sangue nos predispõe à pressão alta e aos ataques do coração.
ENTÃO O QUE A CORREÇÃO DO COLESTEROL PODE FAZER?
Quando um dano está acontecendo e a inflamação está sendo iniciada, estão sendo libertadas substâncias químicas de forma que aquele dano pode ser consertado. A pessoa poderia especular que para substituir células destruídas, velhas e corrompidas as necessidades o fígado precisa ser notificado para ou reciclar ou fabricar colesterol, uma vez que nenhuma célula, humana ou de qualquer outro animal, pode existir sem ele. Para isso, está sendo fabricado e distribuído colesterol em sua circulação sangüínea para lhe ajudar a consertar um tecido danificado e na realidade, o manter vivo.
Se um dano excessivo está acontecendo, o que obriga a uma distribuição de colesterol extra pela circulação sangüínea, não parecerá muito sábio meramente reduzir o colesterol e deixar de lado o que realmente está acontecendo. Pareceria muito mais inteligente reduzir a necessidade extra de colesterol - o dano excessivo que está acontecendo, a razão para a inflamação crônica.
ENTÃO PORQUE TOMAR MEDICAMENTOS QUE REDUZEM O COLESTEROL?
As companhias farmacêuticas imaginaram que você poderia fazer essa pergunta. Elas se voltaram para as suas pranchetas de trabalho. Pesquisaram mais e descobriram (coincidentemente) que as drogas tipo estatinas teriam efeitos antiinflamatórios. Então elas estão nos dizendo atualmente para continuar a usar nossas drogas redutoras de colesterol porque agora elas trabalham reduzindo a inflamação, não pela redução do colesterol, e na realidade, talvez, apesar da redução. A aspirina reduz inflamação para muito menos dinheiro. Como também faz a vitamina E, o óleo de peixe e as mudanças dietéticas sem os perigos dessas drogas e tendo muitos outros benefícios.
E OS TRIGLICERÍDEOS?
“Triglicerídeos” é apenas uma terminologia médica para a gordura. Uma pessoa com triglicerídeos altos tem muita gordura na circulação sangüínea. Triglicerídeos são geralmente medidos quando uma pessoa jejuou durante a noite. Os triglicerídeos de jejum elevados significam fabricação demasiada, ou utilização (queima) muito pequena. Em outras palavras, o que os triglicerídeos elevados estão dizendo é que você está fazendo muita gordura e que você não pode queimar tudo isso. Esse realmente é o problema principal. A inabilidade em queimar gordura está por de baixo de virtualmente tudo o que ocorre nas doenças crônicas do envelhecimento, e na realidade pode contribuir à taxa desse processo.
Como tal, deveríamos imaginar que o controle da queima e do armazenamento das gorduras poderia ser muito importante para a prevenção da doença de coração, e das outras doenças do envelhecimento como a diabete, obesidade, osteoporose, e até mesmo do câncer. Realmente, esse parece ser o caso. Os dois hormônios que tem maior controle sobre nossa habilidade de queimar e armazenar gordura são a insulina e a leptina, e parecem fazer um papel principal em todas as doenças crônicas do envelhecimento. Eu os classificaria como os hormônios mais importantes da química do corpo inteiro. Mas isso é uma história que fica para mais tarde.
(*) Ron Rosedale, é médico, pesquisador, diretor do Rosedale Metabolics Inc., é o autor do livro “The Rosedale Diet” (em associação com Carol Colman) e do livro “Hypoglycemia: the other sugar disease” (Hipoglicemia: a outra doença do açúcar) (em associação com Anita Flegg). Tem inúmeros artigos sobre metabolismo publicados em vários sítios da Internet sobre saúde, principalmente sobre transtornos do metabolismo como a diabete e a obesidade. Esse artigo original em inglês se encontra no endereço:http://www.mercola.com/2005/may/28/cholesterol_heart.htm
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