Segue:
Por Dr. Carlos Braghini Jr
Algumas pessoas acham que o Whey Protein é um suplemento exclusivo para atletas, mas elas estão enganadas.
Whey protein é um produto derivado do leite de vaca. O leite possui duas proteínas: caseína (cerca de 80%) e whey (cerca de 20%). O whey é mais solúvel do que a caseína, além de ter maior valor nutritivo.
Antes de explicar as propriedades do whey, vou apresentar algumas noções para que você possa reconhecer mais prontamente os benefícios deste suplemento.
Fluxo de elétrons
Nosso metabolismo depende de energia para trabalhar e esta energia provém de processos eletromagnéticos, sendo estes a razão principal que norteia meu trabalho com alimentação. Não é por outro motivo que escolhi Albert Szent-Gyorgyi para abrir meu livro com uma de suas brilhantes citações.
Este cientista renomado recebeu o prêmio Nobel em 1937 por ter descoberto a vitamina C., mas foi em seus últimos trabalhos que ele passou a assegurar que e troca de energia do corpo ocorre somente quando há um desequilíbrio de elétrons, para que um fluxo tenha lugar. Doadores naturais de elétrons dão elétrons aos receptores naturais.
Szent-Gyorgyi reconhecia a importância deste processo, uma vez que a oxidação envolve perda de elétrons, um antioxidante contrapõe este processo por suprir elétrons.
A vitamina C é o mais importante antioxidante do corpo, mas existem muitas outras substâncias que fazem o mesmo efeito. Todas elas trabalham para manter o organismo num estado que permita a doação de elétrons, isto é, num estado reduzido.
Como podemos ver aqui, a questão não é de acabar com a oxidação, mas mantê-la em limites saudáveis para os tecidos envolvidos.
A vitamina E, por exemplo, é lipossolúvel, importante como primeira linha de antioxidantes nas membranas celulares, ricas em lipídios. A vitamina C, que é hidrossolúvel, neste caso, ajuda a recarregar a vitamina E oxidada nestas membranas celulares de volta a seu estado reduzido.
Fiz esta pequena introdução para que você possa entender que os vários antioxidantes do corpo desempenham papel sinérgico.
Dano tecidual e reparação
O entendimento atual sobre o adoecimento é que a perda de elétrons num determinado local (oxidação) representa a degeneração primária. Um antioxidante poderia assim atuar restaurando imediatamente esta perda de elétrons “reparando” o tecido. Isso sem contar que ele pode neutralizar o agente oxidante antes que ele tenha a chance de oxidar (ou danificar) o tecido.
No caso das doenças crônicas podemos identificar o mesmo processo de estresse oxidativo, mas numa velocidade muito mais baixa do que nos casos agudos. No caso de meu livro e da imensa maioria dos pacientes que atendo, este é o meu foco de trabalho. Daí meu livro citar no subtítulo Envelhecimento e Longevidade.
Alimentos, suplementos e complementos
Sou enfático na defesa da alimentação como fonte de saúde. Para mim, a medicina perdeu seu mais importante arsenal terapêutico ao abandonar a dietética. Mesmo os ortomoleculares falham ao supor que os nutrientes possam ser encapsulados e que estes podem substituir a alimentação.
Nutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas, minerais) são fundamentais, mas apenas “blocos de construção”: não realizam trabalho!
O trabalho é feito pelas enzimas, com a energia fornecida não só por elétrons, mas por entidades como prótons, fônons, plasmons, buracos (holes), éxcitons, sólitons, polarons e confórmons (sabe-se lá o que ainda iremos identificar).
Aqui voltamos ao tema anterior: estilo de vida e fonte de energia.
A qualidade da vida que vivemos agora e que vamos viver no futuro depende de nossas ações. Viver ao lado de quem não lhe ama, trabalhar no que não quer, morar onde não gosta é tão danoso para a saúde quanto uma alimentação ruim, nutrir sentimentos negativos, adotar um estilo de vida doentio... todos produzem estresse oxidativo, um assassino silencioso.
Em compensação, quando começo a atuar terapeuticamente a melhora clínica e a sensação de bem-estar não é um sentimento místico, mas a expressão do melhor funcionamento metabólico. Uma vivência real da harmonia celular.
Tenho uma crença pessoal de que nossa saúde depende do quão hábil somos em proteger nossos estoques de algumas substâncias-chaves, como enzimas e antioxidantes, por exemplo. Quando temos uma alimentação e um estilo de vida que mantém nossos estoques, não esgotamos nossas próprias fontes. Uma alimentação rica em energia auxilia nesta preservação.
Para alcançar este objetivo, lanço mão de uma série de estratégias terapêuticas e alguns suplementos. Na verdade, os considero mais como complementos, uma vez que eles apenas complementam e completam a dieta. O farmacêutico Henry Okigami diz que o tamanho da receita é inversamente proporcional a competência de quem prescreve. Existem exceções, como nos casos dos pacientes idosos com múltiplas doenças, mas mesmo assim, o suplemento nunca é usado como o alimento do indivíduo.
Um dos suplementos que uso com mais frequência é o whey protein.
Whey protein
Eis um dos trechos de meu livro:
Possuímos milhares de estruturas proteicas que desempenham as mais variadas funções: transporte (hemoglobina, albumina), defesa (imunoglobulina, fibrinogênio), controle e regulação (hormônios, enzimas, receptores hormonais), contração (actina e miosina no músculo), dentre outras. O whey protein, produto derivado da proteína do soro do leite, foi desenvolvido na Dinamarca por um processo especial que fornece excelente fonte de aminoácidos, não só para desenvolvimento de massa muscular, mas como suplementação alimentar. O whey protein fortalece a imunidade, melhora os resultados de treinamentos físicos, estimula a liberação de hormônio do crescimento (GH) e o consequente incremento da massa muscular, fornece proteínas de alta qualidade e fácil digestão poupando as proteínas endógenas, fornece altos níveis de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA, do inglês Branch Chain Amino Acids) que protegem as células musculares auxiliando nos processos de detoxificação orgânica graças aos aminoácidos sulfurados, protege a mucosa intestinal devido à ação da mucina, protege e fortalece o tecido ósseo por estimular a ação dos osteoblastos. Além disso, é a melhor maneira de aumentar os níveis de glutationa, o mais poderoso antioxidante intracelular. Evite o whey protein industrializado que contenha soja, corantes e adoçantes artificiais.
Mas não sou só eu quem diz que o whey protein tem uma função muito mais abrangente do que simplesmente aumentar a massa muscular. Aliás, ele faz isso também, e não só em atletas.
Uma pesquisa recente publicada no Nutrition Research avaliou pacientes que usaram whey protein integralmente (15g), a quantidade aproximada de aminoácidos essenciais do whey (6,72g), e uma quantidade aproximadamente igual de aminoácidos não essenciais do whey (7,57g). Os pesquisadores avaliaram o nível de fenilalanina no plasma dos usuários e é evidente o resultado: o whey e os aminoácidos essenciais levaram a um aumento no nível plasmático de fenilalanina enquanto que os aminoácidos não essenciais não o fizeram. Mas o resultado interessante foi no ganho de massa magra. O whey teve um desempenho melhor que os aminoácidos essenciais do whey, a diferença foi estatisticamente significativa, o que sugere duas possibilidades. Ou os não essenciais fizeram a diferença, ou o whey em si tem um fator adicional (foi a conclusão dos pesquisadores). Outro dado, o nível de insulina nos usuários de whey foi maior que nos usuários de aminoácidos essenciais e não essenciais.
Em tempo, os usuários eram pacientes idosos.
Outro dado interessante ao analisar este trabalho é que os aminoácidos não essenciais tem atividade no organismo, induzem secreção de insulina e – talvez o mais importante para o meu trabalho - poupa os aminoácidos essenciais, pois muitos dos aminoácidos essenciais são precursores de não essenciais.
Efeito antioxidante
Agora vai ficar mais claro o porquê de eu começar este texto com a questão eletroquímica e a importância dos antioxidantes.
Um dos efeitos do uso de whey protein é a sua capacidade de aumentar os níveis de glutationa, um tripeptídeo formado pelos aminoácidos cisteína, glicina e ácido glutâmico (glutamato). Ele é um dos mais importantes antioxidantes intracelulares, e um reconhecido detoxificante corporal. Além disso, a glutationa aumenta a atividade antioxidante das vitaminas C e E.
Como o próprio exercício físico é oxidante, os atletas ganham muito mais do que massa muscular com seu uso: ganham proteção antioxidativa.
Aqui cabe também uma ressalva: não se sabe bem o motivo, mas quando batemos o whey protein, como o que ocorre no liquidificador, os níveis de glutationa não aumentam. Por isso, sempre oriento meus pacientes a acrescentarem o whey apenas no final da preparação da bebida.
Esses motivos, a meu ver, seriam suficientes para que eu recomendasse o uso do whey a meus pacientes, sejam eles atletas ou não.
Aliás, talvez a aplicação que eu mais goste é na suplementação de idosos.
Digestão de proteínas
Um observador inteligente poderia dizer neste ponto, então, por que não simplesmente adicionar proteínas à dieta dos pacientes?
É verdade, mas posso lhe dizer que uma condição extremamente frequente nos idosos é a dificuldade de manter o estomago em estado ácido o suficiente para digerir as proteínas. Acrescente a isso o prazer dos médicos em prescrever o uso de antiácidos, como os famigerados inibidores da bomba de prótons.
Se quiser complicar um pouco mais é só adicionar a esta imagem alimentos cozidos em excesso, os preparados ou aquecidos no micro-ondas ou mesmo os alimentos industrializados (processados). São procedimentos que destroem as enzimas que poderiam ajudar na digestão das proteínas.
Se o paciente for um consumidor de leite pasteurizado o quadro é mais grave. E mesmo se for de leite cru e orgânico, precisamos saber que tipo de vaca o produz.
1. As vacas holandesas (mais comum nos grandes produtores) produz mais caseína do tipo 1 (alergênica) e de difícil digestão.
2. Já as vacas do tipo Guernsey, Jersey e Gir que comam preferencialmente pasto ou feno produzido em solos remineralizados com altos teores de fósforo, cálcio, magnésio e potássio e com teores expressivos de ferro, manganês, zinco, cobre, boro, cobalto e molibdênio e com uma microbiologia ativa para garantir um bom suprimento de húmus que irá se contrapor as secas e estiagens, cada vez mais frequentes, e gerar plantas mais sadias e nutritivas produzem um leite menos alergênico e com a caseína A2 (mais biodisponível).
Estes detalhes foram brilhantemente escritos pelo José Luiz Garcia. Veja mais aqui:
Como você pode ver a questão não passa em ter ou não uma dieta adequada de proteína, mas como ela é digerida pelo estomago para chegar ao intestino de maneira que possa ser absorvida.
A digestão do whey
Proteínas são substâncias fundamentais ao corpo, por isso o nome deriva do grego prota que poderia ser traduzido como “de importância capital”.
Mas aqui vai uma ressalva; as proteínas não são absorvidas in natura, mas são quebradas no estomago, por ação da pepsina, em pedaços menores, frequentemente em seus constituintes, os aminoácidos. E são estes aminoácidos que são absorvidos no intestino delgado.
Uma vez que cheguem à corrente sanguínea são utilizados para produzir novas proteínas, que vão:
- Prover estruturas como ligamentos, unhas e cabelos
- Auxiliar na digestão na forma de enzimas digestivas
- Auxiliar na imunidade na forma de imunoglobulinas
- Prover movimento na forma de músculos
- Ajudar a escrever um artigo como este ou a entendê-lo na forma de neuropeptídios
- Transportar oxigênio na forma de hemoglobina
E por aí, vai.
Dito isso, é um equivoco bioquímico afirmar que os aminoácidos podem sobrecarregar os rins ou fígado, mas, ao mesmo tempo, o excesso de proteínas pode sobrecarregá-los.
Pesquisando na literatura, cheguei a encontrar – é verdade – alguns relatos de toxicidade hepática pelo uso de whey protein, mas parecem casos isolados e que não se pode afirmar ser um efeito direto.
Ao contrário, o que temos em maior quantidade são trabalhos mostrando a segurança de seu uso. Além disso, minha própria experiência profissional mostra que, até então, é seguro o seu uso em qualquer idade (de crianças a idosos).
De qualquer maneira, um aviso deve ser dado aos pacientes. O máximo de whey que alguém pode tomar de uma vez é 150 gramas (o pote que eu peço para manipular contém 280 gramas). Atletas de alta performance usam 25 gramas ao dia e a dose que eu recomendo é de menos de 10 gramas por dia ou o equivalente a 0,1 a 0,3 g/kg.
Na verdade, o que está em discussão é que o excesso de qualquer coisa é ruim para a saúde. Moderação é a chave. Incluindo o whey protein.
Whey protein manipulado
Existem algumas características que identificam um whey protein de qualidade. São elas:
1. Que seja derivado de leite – não soja – de vacas livres de hormônios promotores do crescimento e que pastam em solos não tratados com pesticidas. Isso garante um whey superior nutricionalmente, rico em ácido alfa-lipóico e CLA (ácido linoleico conjugado).
2. Que seja processado a frio. O calor torna o whey ácido e nutricionalmente deficiente por danificar os aminoácidos e os nutrientes termolábeis.
3. Não ser processado por troca iônica (ion exchange processing). A indústria o prefere por ser mais barato do que o processamento livre de ácidos (acid free processing), mas este processo que separa o whey da gordura do leite acaba por desnaturar os aminoácidos.
4. Ser whey concentrado e não isolado. Proteínas isoladas são proteínas onde os cofatores foram retirados. Além disso, todos os isolados são expostos ao processamento ácido, sem contar que nosso corpo não assimila proteínas na forma isolada.
5. Ser adoçado naturalmente e não artificialmente. Sucralose e aspartame são os edulcorantes artificiais mais comumente usados pela indústria. São toxinas que todos deveriam evitar. Os melhores adoçantes são a estévia, o agave, o xilitol ou manitol.
6. Não deve conter carboidratos, principalmente glúten, frutose ou xarope de milho.
7. Ter máximo valor biológico. A maioria dos produtos disponíveis no mercado não entrega o que o rótulo promete. Deve ter pelo menos 70% de proteína seca, com menos de 1% de lactose.
8. Ser de fácil digestão. Muitos produtos contêm ácidos graxos de cadeia longa que são difíceis de digerir. O ideal é conter ácidos graxos de cadeia média, mais facilmente digeridos e que não provocam estresse no sistema digestório.
Fonte: http://ligadasaude.blogspot.com.br/2011/08/whey-protein.html